Arquivo para novembro \25\+00:00 2008

Xexocando o documento

Veja este cartaz e fique impressionado com tamanho esmero do escritor.

Só em Sete Lagoas

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Viva Minas Gerais!

MINAS É A MÃE,
BENÇA MÃE.

O jeito mineiro de ser o que é? E por quê? O ser mineiro é um modo particular de ser que se pode descrever, mas que é difícil de se entender. Quem fala muito dá bom dia a cavalo, dizia minha mãe pra conter meu ímpeto falatório. Quem fala se expõe, arrisca-se, pode parecer bobo, meio idiota, exibido, ridículo. Mineiro morre de medo do ridículo, de ser gozado, criticado. Quer matar um mineiro? Ria dele! Por isso todo mineiro toma a iniciativa da gozação. Chega, fica num canto e arranja logo alguém para gozar. É capaz até de tomar a iniciativa de gozar de si mesmo para não ser gozado por outrem. Falar mal de alguém é um modo de se proteger da fala do outro. Mas falar mal pode até ser um modo de falar bem, porque o pior é não ser falado. Cair no olvido.
Fica calado e quieto. Gesticular também não dá, pode parecer espalhafato, teatro, apresentação. Quem se mexe desperta a atenção, instiga a caça, fica vulnerável, na mira do ataque. Ficar quieto, fingir de morto, no silêncio, na tocaia de si mesmo, protegido do outro. Mineiro que veio do mato sabe de caça e caçador. Milton já cantou, o caçador de mim.
Mineiro ao abre a guarda, não mostra a casa, não exibe a riqueza, não grita da janela, não sai correndo de jeito nenhum e de lugar nenhum. Chega devagar, fica devagar e sai mais devagar ainda. Tem que se proteger de algo.
Mineiro olha de cima, mas não por cima. Mineiro falante veio de fora. Mineiro direto, aberto e agressivo é desvio de rota, não é caminho normal. Mineiro é ético, não se arrisca no roubo, no assalto, na aventura. O erro pode não dar certo. Mineiro é mais da ordem, do caminho percorrido, conhecido, estabelecido. É mais status que mudança de status. É mais terno que manga curta, mas sapato que tênis, mais automóvel que carro esporte. Mais casamento que caso fora de casa. Mais de café preto que chás variados.
Já a mineira é tudo isso que mineiro é e muito mais. Se pede com olhar, esconde-se na recusa. É mãe mesmo quando não tem filhos. Até os 20 é um pecado. Depois é muito mais. Transpiro todos os pecados numa virtude só. Surpreende e depois se esquece. Te ama com paixão e depois te deixa sem dó nem piedade. Basta por óculos escuros ou mesmo Ray-ban que vira outra, sem remorso. Porque mineira não se reduz ao mineiro, vai muito além. Mineira é ótima, diferente dos demais seres humanos, vem de um fundo que ninguém sabe, de um interior que não tem no mapa, fronteiras desconhecidas.
E tudo isso pode ser visto e sentido, não explicado. Pode ser descrito, mas não fundamentado. É porque veio do interior ou porque nunca saiu de lá. É porque sempre foi camponês e se escondeu detrás das serras e dos montes. É porque foi judeu-novo, migrante corrido, foragido, desconfiado e que chega atrás de suas origens. É porque teme e Deus e conversa com o Diabo. É porque tem certeza do certo e duvida até do duvidado. Gosta do reverso e começa tudo pelo contrário, torcendo para dar certo. É porque ri do moderno porque sabe que tudo no fundo é mesmo muito antigo sempre renovado.
Mas por tudo isso, de onde veio mesmo e para onde vai? Ninguém vai saber porque não se fala, mas se olha e se ri como se tudo já tivesse sido dito. O sabido do ignorado.
Se um dia o Brasil acabar, Minas continua. Tem horizonte para tal, tem substancia para durar, tem ainda muitos casos para contar, distâncias a percorrer, pecados a expiar, contas a fazer, saudades a matar…
Minas vive em divida consigo mesma, fazendo promessas para pagar. É sua forma de ser eterna nesse trivial do cotidiano. Vive sangrando minério, exportando seu ser para o mundo, em silenciosos trens que não param de ir, sem nunca mais voltar. Levando Itabirito, Itabira, Conselheiro Lafaiete, Montanhas. Minas é o único lugar do mundo em que se exporta montanhas e não fica rica.
Por tudo isso é que, quando tenho vontade de rever o Brasil, vou a Minas Gerais. E volto cheio de mim. Carregado de coisas, como se tivesse mergulhado no tempo e me perdido no espaço, virado de repente um ser planetário vivendo no interior do mundo. Minas para mim tem várias cidade e poucos endereços. Bocaiúva, Neves, Belo Horizonte. É Rua Ouro Preto e Ceará. A primeira mudou de nome; na segunda, sumiram com minha casa. Minas na verdade hoje é mil amigos que não vejo e minha mãe. Bença, mãe.

REFERÊNCIA
SOUZA, Herbert José. ISTO É MINAS – 30/09/1992

Para refletir…

(…) É certo que o artista não deve ter pressa, é preciso saber esperar. Mas isto do sujeito que só se põe escrevendo “quando sente disposição” é estupidez… Principalmente para o prosador. (…) O prosador lida com a inteligência lógica, está no plano do consciente, das relações de causa e efeito. O seu discurso tem cabeça, tronco e membros, princípio-meio-e-fim, embora pouco importe que muitas vezes o assunto exija que o fim esteja no princípio, e o princípio no meio. Não tem disposição? Não se trata de ter disposição: você é um operário como qualquer outro: se trata de ter horas de trabalho. Então, vá escrevendo, vá trabalhando sem disposição mesmo. A coisa principia difícil, você hesita, escreve besteira, não faz mal. De repente você percebe que, correntemente ou penosamente (isto depende da pessoa) você está dizendo coisas acertadas, inventando belezas, forças, etc. Depois, então, no trabalho de polimento, você cortará o que não presta, descobrirá coisas pra encher os vazios, etc. etc. (…)

REFERÊNCIA
ANDRADE, Mário. Cartas a um Jovem Escritor. Remetente: Mário de Andrade. Destinatário: Fernando Sabino. 3ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1993.

Frieza

Estou em estado de choque.

Cuidado com as borboletas

Como a vida é…

O destino camufla o improvável, e assim deixam de lado o mais óbvio.

😀